segunda-feira, 21 de setembro de 2009

para sempre

(Texto soberbo (como tantos, como todos) do meu querido Luís, que tem a sensibilidade e o talento de verbalizar aquilo que mora em mim e é indizível.)


É madrugada e desligo o computador. Arrumo os documentos de mais um processo e vejo-a ali caída ao pé da restante papelada: a folha que rabisquei a noite inteira. O conteúdo repete-se inúmeras vezes e é um só e contém em si todo um mundo e é o teu nome. Escrito a tinta um sem número de vezes por entre as divagações jurídicas ao longo desta noite. Chamam automatismo a este tipo de comportamentos. Eu chamo-lhe resposta. Ao apelo do teu nome que grita por mim e grita o amor que me consome hoje e sempre desde a primeira vez que unimos os lábios, mesmo depois daquele adeus que entendeste que havia de ser o ponto final na tua assinatura. Porque o teu nome é o passado onde fui feliz. Um marco granítico cravado numa vereda estreita que afirmará para sempre que conheci a bem-aventurança que só conhecem os que se atiram dos penhascos em noites de lua cheia. Nomes como o teu nunca se esquecem porque antes de serem escritos a tinta escrevem-se na carne de quem os ouve. Escrevem-se com o vento quente que rasga a planície. Ou com a chuva nocturna que castiga as pedras das calçadas de Lisboa. São nomes que atravessam a história. E que permanecem na carne onde foram escritos. Para sempre.
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Texto de Luís Rodrigues, in O Murmúrio das Ondas

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