segunda-feira, 21 de setembro de 2009

para sempre

(Texto soberbo (como tantos, como todos) do meu querido Luís, que tem a sensibilidade e o talento de verbalizar aquilo que mora em mim e é indizível.)


É madrugada e desligo o computador. Arrumo os documentos de mais um processo e vejo-a ali caída ao pé da restante papelada: a folha que rabisquei a noite inteira. O conteúdo repete-se inúmeras vezes e é um só e contém em si todo um mundo e é o teu nome. Escrito a tinta um sem número de vezes por entre as divagações jurídicas ao longo desta noite. Chamam automatismo a este tipo de comportamentos. Eu chamo-lhe resposta. Ao apelo do teu nome que grita por mim e grita o amor que me consome hoje e sempre desde a primeira vez que unimos os lábios, mesmo depois daquele adeus que entendeste que havia de ser o ponto final na tua assinatura. Porque o teu nome é o passado onde fui feliz. Um marco granítico cravado numa vereda estreita que afirmará para sempre que conheci a bem-aventurança que só conhecem os que se atiram dos penhascos em noites de lua cheia. Nomes como o teu nunca se esquecem porque antes de serem escritos a tinta escrevem-se na carne de quem os ouve. Escrevem-se com o vento quente que rasga a planície. Ou com a chuva nocturna que castiga as pedras das calçadas de Lisboa. São nomes que atravessam a história. E que permanecem na carne onde foram escritos. Para sempre.
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Texto de Luís Rodrigues, in O Murmúrio das Ondas

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

17 de setembro

transborda de sal o vaso do meu amor por ti. líquido, escorre-me na alma, abrasivo, e queima todos os espinhos do teu perfil que te inventei. dói-me este cansaço ansioso a olhar a longa estrada por onde nunca chegarás, mas de onde ansiosa e descrentemente te aguardo, vislumbrando-te, nos meus dias, por entre a poeirenta cerração do meu querer que te afaga.


‘inexistente amor tão magoado’

domingo, 6 de setembro de 2009






















irromperam pela página virgem
as pétalas vermelhas do teu olhar,
mas o ciclone da razão
varreu do branco da minhas folhas
a apoteose do teu sangue... 
e foi assim que me morreram todos os versos.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009












são de linho branco todas as palavras
que digam o teu nome,
pássaro nu
pousado nas ameias do tempo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009
















na oceânica boca do desejo
baloiça o meu barco,
rendido às ondas da tua volúpia.

ah... o teu corpo revelado
ao tremor das minhas mãos navegantes.