sábado, 6 de dezembro de 2008

passado


Na tarde quase noite passei nos sítios que me trespassaram até ao infinito da minha finitude. À medida que os esventrava, sentia o peso do silêncio que se instalara. Nos outros e em mim. Eles por adivinharem o latejar ensurdecedor da mudez da cidade, eu por senti-lo, avassalador. Estremeço sim, mas não é por ti, antes pelo temor de novamente ser tomada pela agudez cruel da angústia, do martírio. Agora, que já não te choro, já não, reparo como ficou em mim, de ti, tanto, que eu sou a soma de quem sou e daquilo que me ficou de ti. Não sei quando ou se alguma vez voltarei a encontrar-me apenas comigo… há-de chegar o dia em que o medo também vai morrer, como tu. Aí sim, serei a Vida.

para S., invariavelmente

.
Do amor... ah do amor só os contornos.
Vem e completa o desenho de mim, sopra-me nas narinas e dá-me a vida, oh deus de olhos negros que sorriem na madrugada de cada despertar.
.
A ti, que tardas em reconhecer-me, enlaço-te neste aperto ansiado com que te uno à minh'alma que a tua envolve desde o início em que a minha te viu.


terça-feira, 2 de dezembro de 2008

reflexão III

Faltou o tempo e precipitaram-se as palavras. Claras, exactas, com a forma das coisas que definiam. Faltas tu, agora. E para sempre?E se a desilusão tiver a tua forma?

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

reflexão II

Repentina a decisão de vos ver, como a tua ao reencontrar-me. Havemos de conversar... não acredito que os tempos passados caibam na caixa das desilusões.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

aproximar o amanhã


Desfaleço na suposição do teu abraço,
meu amor que há-de ser.

domingo, 2 de novembro de 2008

nocturno



A noite encaminha-se para a madrugada e eu para casa, onde nunca me aguardaste por já ser posterior à tua definitiva ausência.
Sinto deslizar a memória para o tempo dos segredos e para onde o coração se precipita.
Tremo por te sentir tão perto de mim neste bolero que me inunda o rosto .
Hesito na direcção a tomar, mesmo sabendo que já não posso correr em direcção a ti, quando os meus passos não sabem outro caminho.
Morro na viagem e sou só já fantasma neste sobejo de vida em que me deixaste.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

a propósito da saudade



Na berma do meu país, invoco as horas sularengas dos rasos campos ardentes.
O tempo desprendido de preceitos regrados que têm os meus dias neste litoral à beira-fim. Na berma do meu país, invoco a cavalgada inebriante das horas vagarosas que habitam as tardes do sul, onde pertenço. Nesta berma de beira-Atlântico, sítio onírico onde quis regressar, após o exílio. Voltada que sou, reparo que só o sonho permanece inalterado na memória que o alimentou. Tudo o mais desapareceu. Sabia-o. Desconhecia é que fizesse toda a diferença, entristecendo e angustiando os meus passos aqui.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

a ti que espalhas mudez

A ti... a ti, que te espalhas no mundo, a ti, devolvo mudez à mudez da presença que se trocou. Enquanto isso, fica em mim a inquietação, que é mágoa também.A ti ... a ti entrego-me em adeus e distância. Em nome de mim.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

reflexão I

Por tanto que me esforce e acredite que encontrei, surge sempre nova paisagem sobre todas as outras que me fizeram desencontro.

domingo, 5 de outubro de 2008

a ti.



vens todas as noites habitar o espaço vácuo que a razão preenche durante o dia. vens, e o teu passo é seguro e decidida a tua vontade. estremeço ante a tua chegada, mas acolho-te sempre no mais prolongado abraço e no afago terno com que toco o teu corpo.
mas até no sonho partes, ao encontro de quem, para para sempre e tão longe, de mim te levou.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

inicial


seja o que for, será sempre a porta do regresso.